Quando busco no fundo do baú das minhas lembranças meus primeiros momentos na empresa que passou minha própria e única história, como num filme, que parecia ser de longametragem, mas que na realidade, só agora percebo, foi de curtametragem, vejo todas aquelas pessoas que compuseram o elenco alegre, o elenco preocupado, os momentos de euforia, os momentos de expectativa, os momentos de desespero também. Vi componentes do elenco sucumbindo à fatalidade. Vi outros saborearem na taça do prazer toda a felicidade das dádivas que os homens que mandavam puderam lhe alcançar.

Depois disso e até hoje as cenas tem sido mais rápidas, os personagens mais discretos, as máquinas frias e calculistas foram chegando, os homens desaprendendo, nelas tudo confiando, suas almas foram tragadas, suas mentes maltratadas, seus nomes passaram a ser númerosna escala infinita do anonimato, em casa passaram a ser pilhas carregadas com poderosos raios explosivos que colocaram barreiras invisíveis e intransponíveis entre o viver e o ser. Seus filhos, suas esposas passaram a ser vistos como são vistos os planos de governos que se sucedem, sempre com muita preocupação. Já não há mais quem aguente tanto desmando dentro do mando. Então começamos a ficar pequenos, escondidos, atrás de nossas próprias sombras encobertos pela rede de incertezas que nos oprime entre a máquina e o comando, entre o poder e o obedecer.

Depois disso, quem sabe, um barco de ilusões, muito pequeno, muito aconchegante nos devolvia o tempo e o espaço para saber e aprender na medida certa, o que é o amor, o que são os amigos e o que podem nos proporcionar daí em diante até que outros seres ocupem nosso espaço e voltemos ao nada, donde viemos para fazer não sei o que, nem sei para quem...
Texto criado por ocasião da movimentação do Banrisul para aposentadoria de vários gerentes, em 21 de outubro de 1994, Arroio do Meio.
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