sábado, 26 de maio de 2012

Minha Boa Vista do Guabijú

Relembro, no outono, o velho plátano,
suas grandes folhas, da cor do ouro.
Nossa casinha parecia tão grande...
Roseira branca e um pé de louro.
A fonte d´água, quanta saudade...
A macieira, que frutos lindos...
Gramado verde, os pés das dálias
a minha infância, nos tempos findos.

Que belos dias, que ares puros.
Havia vida, manhãs de sol.
À noite, um céu de estrelas.
Na lareira, muito calor.
Sinto saudades, choro as vezes.
Quase enlouqueço, ao relembrar.
Mamãe era nova, papai tão forte.
Eu, uma criança e nada mais.

Uma estradinha, passava em frente
Em seus barrancos as amoreiras.
Em seu leito, quantas pedrinhas.
Nem as sentia, de pés descalços.
Quantas vezes, estrada velha.
Sonho contigo, volto à infância.
Revejo amigos, passo o riacho.
P´ra mim, então, o maior do mundo.

Se tu falasses, minha avenida.
Quantas coisas saberias contar
Talvez escravos, em tempos idos
Aos chicotaços te deram a vida
Quem sabe um dia, antes do ocaso.
Eu volte a ti, pise teu chão.
Procure a fonte, a velha casa.
Da roseira colha um botão.

Sentado à sombra do velho plátano
Verei mamãe, seus afazeres.
No recolhimento, ao anoitecer
A Ave Maria, o adormecer
Chamarei Deus, e pedirei
P´ra de anjos tudo cercar.
Trazer de volta as manhãs de sol
E nunca mais aquilo mudar.

Quanta saudade, quanto sofrimento.
Tudo distante, tudo passado.
Papai, mamãe já estão tão velhos
Quantas lembranças, torrão amado.

Publicado na Coluna Literária, em 1976

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