quarta-feira, 30 de maio de 2012

Em Memória

Um homem de rara simplicidade
No semblante a alegria estampada
Uma vontade louca de viver
P´ra esta cidade cuidar
P´ra todos ajudar
Com paciência, com bondade.
Seu "Gigio" partiu
Viajou para o além
Teus filhos choraram
Teus amigos rezaram
A noite foi fria
Em teu rosto abatido
Nosso adeus derradeiro, sentido.
Seu "Gigio" soube ser gente
Soube viver como um homem
Soube tombar como um bravo
Quem sabe Deus lá no céu
Outra Nova Prata arranje
P´ra ele ser chefe de obras
Cuidar dos jardins, plantar rosas.

Nota: Luiz Antônio Minozzo - Gigio - sempre, durante o tempo em que trabalhou, foi Capataz da Prefeitura Municipal de Nova Prata/RS, exercendo o cargo de vereador por três legistalturas. Foi Presidente da Câmara e assumiu várias vezes o cargo de Prefeito Municipal interinamente.

Publicado na Coluna Literária, de 1978.

Mamãe

Como é bom recordar
o tempo em que você dizia:
Filho, vamos rezar
o Pai Nosso e a Ave Maria
Fazia-me muitos afagos.
Punha-me na cama.
Então... dormia.
Mergulhava num sono profundo
Sonhava com personagens
de história que tu contavas
de coisas que tu falavas
criava as suas imagens
sem truques e sem arranjos.
Mamãe, aquele tempo passou
a luz que outrora brilhou
Está em teus olhos, tua alma.
Mas, mamãe, sabe que a vida
uma lição, as vezes sofrida
por nossas próprias desatenções.
Neste teu dia, mamãe querida
Um beijo em tua face sofrida
que o tempo insiste em massacrar.

Publicado na Coluna Literária, maio de 1977.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Cortinas Amarelas

Disseram-me que havia
cortinas multicoloridas.
Procuro-as desde a aurora,
por vales vazios,
desertos infindos, 
e nada pra ver.
Somente notei
existirem palcos e artistas
que mandam, que sobem, que pisam
e se vangloriam
com suas soluções... ou
imaginações
de tamanho de uma partícula de pó.
Ora... vejam só
e as cortinas onde estão?
Procuro por elas... Mas
Não existem!
Só há cortinas amarelas.
Por tudo onde andei
só as vi, amarelas.
Outras cores, são férteis imaginações
criadas por multicoloridas ilusões
de sádicos e fanáticos
que são como vermes
cujos destinos
é o de se banquetearem
em fétidos intestinos
que dizem ser
MULTICOLORIDOS.

Publicado em 1977.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Foi Um Sonho

Livre, completamente livre.
Sem temor do tempo,
sem horários, sem convenções.
Murais pintados
e decorados.
Suntuosidade total.
Ricos tapetes
trabalhados.
Baixelas de prata, 
tetos dourados,
inebriantes perfumes,
bebidas finas,
muito sol
nas azuis piscinas,
mulheres,
mais lindas que o luar,
de pele macia,
bronzeadas,
sedentas
e prontas para amar...
De repente
um apito estridente...
é a fábrica.
Cambaleante,
com sono,
procuro água,
passo em meus olhos.
Saio correndo,
espraguejando.
Foi um sonho... um sonho...
Apenas um SONHO.

Publicado na Coluna Literária, fevereiro de 77.

domingo, 27 de maio de 2012

Definições

Irmão...
Esqueça se a vida
as vezes sofrida
por muitas razões,
insatisfações
ou mal entendidos,
te tiram o riso,
te tiram a fala,
te tornam tristonho,
te roubam o brio
ou... embrutecem a alma.
Irmão...
Caminhar p´ro mar
bem cedo, descalço
respira bem fundo,
contempla a beleza,
a graça e grandeza,
e...
lembra que existe
alguém que comanda,
que prova e reprova
o que é certo ou errado
e que, o precipitado
ou... quem pensa que é tudo, 
não é nada! É matéria
exposta ao tempo, 
que é um prato supimpa
p´ra insetos famintos
p´ra ratos
p´ra vermes.

Publicado na Coluna Literária, dezembro de 76.

sábado, 26 de maio de 2012

Minha Boa Vista do Guabijú

Relembro, no outono, o velho plátano,
suas grandes folhas, da cor do ouro.
Nossa casinha parecia tão grande...
Roseira branca e um pé de louro.
A fonte d´água, quanta saudade...
A macieira, que frutos lindos...
Gramado verde, os pés das dálias
a minha infância, nos tempos findos.

Que belos dias, que ares puros.
Havia vida, manhãs de sol.
À noite, um céu de estrelas.
Na lareira, muito calor.
Sinto saudades, choro as vezes.
Quase enlouqueço, ao relembrar.
Mamãe era nova, papai tão forte.
Eu, uma criança e nada mais.

Uma estradinha, passava em frente
Em seus barrancos as amoreiras.
Em seu leito, quantas pedrinhas.
Nem as sentia, de pés descalços.
Quantas vezes, estrada velha.
Sonho contigo, volto à infância.
Revejo amigos, passo o riacho.
P´ra mim, então, o maior do mundo.

Se tu falasses, minha avenida.
Quantas coisas saberias contar
Talvez escravos, em tempos idos
Aos chicotaços te deram a vida
Quem sabe um dia, antes do ocaso.
Eu volte a ti, pise teu chão.
Procure a fonte, a velha casa.
Da roseira colha um botão.

Sentado à sombra do velho plátano
Verei mamãe, seus afazeres.
No recolhimento, ao anoitecer
A Ave Maria, o adormecer
Chamarei Deus, e pedirei
P´ra de anjos tudo cercar.
Trazer de volta as manhãs de sol
E nunca mais aquilo mudar.

Quanta saudade, quanto sofrimento.
Tudo distante, tudo passado.
Papai, mamãe já estão tão velhos
Quantas lembranças, torrão amado.

Publicado na Coluna Literária, em 1976

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Solidão

Pálido luar 
Alguns grilos 
quebrando a monotonia 
desta noite de ansiedade. 
Olho para o firmamento, 
um nevoeiro intenso 
passa veloz pela lua. 
Lembro você em algum lugar 
e imagino 
que em teu pensamento 
não existe
nenhum fragmento
deste universo 
que tão ardentemente 
e loucamente 
estou a te oferecer. 
Agora 
as nuvens sumiram 
a noite brilhou intensamente
mas...
em minha mente 
tudo o que há 
é uma tênue lembrança 
da tua imagem 
do teu olhar 
uma tremenda ilusão 
e nada mais. 
Então... 
Chego a pensar 
em me transformar 
numa gota de orvalho 
para pousar em teus lábios 
enlouquecer em tua boca. 
Escorrer pelo corpo 
até ser absorvido 
pelo seu calor. 

Publicado na Coluna Literária, maio de 76.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cidade Grande, sem rima

Cidade ilusão, alçapão dos incautos
Ninguém se conhece. Um bando de loucos
Atrás de carniças. Negócios mundanos
Esquecendo que vida só há com sossego
Se lançam às ruas apressados sem rota
carregam nas faces, cegueiras e rugas.

Doutores gorduchos, com ares faceiros
Mendigos imundos, com fezes nas roupas
Padres polidos, olhando p´ro céu
Esquecendo a terra, pois vivem aqui
Meninas bonitas, marginais, trapaceiros
Um carro que bate, alguém ali morre
É fato comum, ninguém se impressiona.

O vento que sopra espalhando fedor
Esgotos rompidos, crianças dormindo
Em portas de casas, crescendo com ódio
No andar logo acima, uma festa supimpa
Comida à beça, seios à mostra
Trauma p´ra alguns, volúpia p´ra outros.

Edifícios subindo, fumaça por tudo
O sol se escondendo, a vida morrendo
Os homens discutem, cientistas, fracasso
Cavando buraco p´ro enterro de tudo

De todos é a culpa, ninguém toma jeito
Caminham p´ro abismo, esperam o tombo
São coisas do avanaço, não há retrocesso.

Na praça do centro um matuto saudoso
Com dor de barriga, procura uma moita
Se guia pelo cheiro, vai dar num WC
Entra depressa, o guarda barra
Dá um dinheiro... e leva o papel
Senão vai de volta, te arranja na rua.

Recorda outros tempos, a roça de milho
Casebre da encosta, na boca do mato
O canto das aves, a vaca, o tordilho
A fonte de pedra, os pés de tabaco
Os raios da lua na noite calam
Entrando, clareando, inundando o barraco.

Publicado na Coluna Literária de 13 de maio de 1976.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ondas do Mar

Onda...
que sabe o que quer,
tocando, de leve,
na pele morena,
que roça nos seios,
que faz afagos
nas ondas
da linda mulher.

Onda...
da crista espumante,
que ao longo do inverno,
em noites vazias,
nas areias frias,
em vão
procura alguém.

Ondas...
há quanto milênios
ora vais, ora vens!
Trazendo, levando
imagens, saudades,
amor, solidão.

Nova Prata, 03 de julho de 1976.


Foto - Marilia, Luís Fernando e Luiz Bavaresco, Itapema - Meia Praia, 1980.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Rumo ao Mar

(comparação com a nossa vida, rumo ao infinito)

Riacho desconhecido
Sonhando proezas
Fugindo às represas
Causando surpresas
A caminho do mar.

Descendo
Batendo
Nas pedras.
Molhando
Folhagens
Fazendo
Mais puras
que os lírios
Que vagam
suaves
pelas
suas margens.

Continua caminhando
Bueiros passando
Fugindo de bocas
Sedentas
Nojentas
Querendo beber.

Chegando à baixada
Cruzando a estrada
Desembocando
Num riacho maior.

Bastante orgulhoso
Já um tanto furioso
Formando
Cachoeiras
Traiçoeiras
Ligeiras
Dispostas
A tudo engolir.

Por fim a grandeza
Em águas mais calmas
Fazendo beleza
P´ra quem o quer ver
E contemplar
Sua chegada
Ao mar...

Publicado na Coluna Literária de 21 de outubro de 1975.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nova Prata e Seu Passado

Índios guerreiros vagavam pelas matas,
senhores das terras, dos rios e cascatas.
Por entre as grimpas de lendários pinheiros
espiavam a luta em noites de calma,
espiavam os pios de soturnas corujas,
confiavam aos deuses o destino da raça.

Vós que habitastes, estas terras longínquas,
índios Coroados, uma tribo de fortes,
belezas sem par, um lençol de araucárias
tapando a terra, escondendo-a no céu,
ocultando guerreiros da ira dos deuses,
paraíso nativo de amor e nostalgia.

Um dia, distante, homens brancos chegaram.
Enlouqueceram com tudo que viram.
Tomaram posse, os índios sumiram,
os pinheiros, aos milhares tombaram,
que crime, que coisa horrível fizeram
despindo a terra de seu manto divino.

Em nome do progresso, terras loteadas.
Vilarejos surgindo, mais gente chegando.
As matas caindo. Queimadas desenfreadas.
Fazendo fumaça, as chamas subindo.
O passo glorioso, a exuberância das matas
nada mais é que um conto de fadas.

Plantas milenares em minutos cairam.
Que progresso é este? ... destruição!
Hoje o que há são reminiscências
do que houve, há menos d´um século.
Chego a pensar que as gerações futuras
farão mau juízo, dos que ontem viveram.

Esqueço o tempo, retorno ao passado,
suplico ao Senhor das verdes florestas
Mergulho nas matas e grito p´ros céus.
Que amaldiçoe a ganância dos homens,
que preserve as gralhas azuis,
os papagaios, os tucanos e todos os bichos.

Publicado na Coluna Literária, setembro de 75.

domingo, 20 de maio de 2012

Marilia

Sol, flores convidando a viver
Sonhos, fantasias de plenitude tal
Inconscientemente no mundo crer
Sem distinguir o bem do mal.
Marilia, encanto, graça e inocência
das nossas vidas enfeitando os dias
zombando da pobre terra em falência
dando a todos esperanças e alegrias.

Fim de dia, fatigado e descrente
Cansado de hipocrisias, descontente
Olho para você, ouço teu falar
Então tudo muda, outra vez posso sonhar.

Nas noites e dias que passam velozes
Nas nuvens negras, em horas atrozes
Há um ponto de luz, você... Marilia.

Quem dera o mundo fosse diferente 
sem crises, sem fumaças e onipotentes
pois, sofremos por ter e poder demais.

Teu pai.

*** Esta poesia ele dedicou a mim quando eu era pequena.

Início

Resolvemos colocar em forma de blog, para o mundo digital as poesias que meu pai, colaborador desse blog, Luiz Bavaresco escreveu ao longo de sua vida. Esperamos que gostem! Amigos, podem entrar e sintam-se em casa!